O Declínio da Literacia Matemática na Europa: um alerta para pais e professoresUma publicação recente da revista da Sociedade Europeia de Matemática (EMS) fez eco desta preocupação, já expressa pela EMS num relatório do seu Comité de Educação. Neste documento analisam-se os resultados dos estudos internacionais PISA (Programme for International Student Assessment) e TIMSS (Trends in Mathematics and Science Studies), que desde o final do século passado avaliam o desempenho escolar em matemática, ciências e leitura. Estes estudos, realizados pela OCDE e pela IEA, mostram uma tendência preocupante: os estudantes europeus estão a ficar até dois anos escolares atrás dos seus pares em países líderes, como os do Este Asiático (Singapura, Japão, Coreia, entre outros). Na revista da EMS sublinha-se que até a criatividade, muitas vezes vista como oposta ao estudo exigente típico de países asiáticos, está correlacionada com bons resultados em matemática — e Singapura lidera em ambas as áreas.
Num artigo publicado na referida revista europeia, os autores, Nuno Crato e João Marôco, tomam como ponto de partida o dito relatório da EMS após os resultados do PISA 2022. Destacam que a queda no desempenho escolar não é apenas um efeito temporário da pandemia de covid-19, mas sim uma tendência de longo prazo que ameaça o futuro da educação, da economia e da investigação matemática na Europa.
O que dizem os números?
O PISA 2022 revelou uma queda significativa em matemática dos jovens europeus de 15 anos, com uma baixa média de 18,8 pontos em relação a 2018 — o equivalente a uma perda de quase um ano de aprendizagem. Um exemplo desta evolução é a Finlândia, outrora vista como um modelo educacional, e que caiu de 507 pontos em 2018 para 484 em 2022. No mesmo período, Portugal caiu 20 pontos, de 492 para 472. No caso português é preciso recuar até 2006 para observar um nível de resultados da mesma magnitude. Já nações como Singapura (575 pontos, um acréscimo de 13 pontos relativamente a 2018) e Taiwan (547 pontos, um acréscimo de 16 pontos no mesmo período) mantêm ou até aumentam os seus resultados nos estudos internacionais de ciclo para ciclo. O TIMSS 2019, focado em alunos do 8.º ano, confirma esta disparidade: os países asiáticos lideram, enquanto a maioria dos europeus fica aquém da média da OCDE (472 pontos).
Estes dados, representados na figura seguinte, mostram que o problema não é novo — há mais de uma década que os resultados europeus estão em declínio. Portugal, que até 2015 era o único país da OCDE com crescimento positivo nos resultados do PISA, reverteu esse crescimento, e não só se alinhou a partir de 2016 com a pioria contínua dos países da Europa e da América do Norte, como registou quebras superiores à média da OCDE.

O que podemos fazer?
O estudo não se limita a apontar o problema; sugere também soluções práticas que países, pais e professores podem adotar e apoiar:
Currículos mais rigorosos: apostar em programas bem estruturados, progressivos e focados em matérias essenciais.
Métodos de ensino eficazes: valorizar a instrução direta e avaliações válidas, fiáveis e regulares, em vez de reduzir as exigências dos currículos e das provas.
Apoio personalizado: dar atenção extra aos alunos em dificuldades com tutorias específicas e, ao mesmo tempo, desafiar os mais avançados com oportunidades de aprofundamento.
Consciência da importância da matemática: mostrar aos alunos (e às famílias) como esta disciplina é crucial para o exercício da cidadania plena nas sociedades modernas.
Formação de professores: garantir que os docentes tenham uma preparação sólida em matemática e reconhecimento social que levem os nossos jovens a seguir esta profissão. A escola é um elemento fundamental das sociedades, e os professores são o garante do futuro dos nossos jovens.
Um apelo à ação
O principal alerta do estudo é claro: ignorar esta crise é condenar as próximas gerações a um futuro menos participativo nas sociedades modernas. Para os países, é uma chamada à ação, visando a melhoria muito séria do ensino. Para os professores, é um convite a lutar por melhores condições de ensino e a inspirar os alunos. Para os pais, é um apelo a exigir uma educação de qualidade e a valorizar a matemática em casa. Reconhecer o problema é o primeiro passo; agir, o mais urgente.
João Marôco
Fonte: Iniciativa Educação