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« Última mensagem por Sininho em 04/12/2024, 19:14 »
A Educação Inclusiva precisa de um novo olhar para o Futuro
No dia 3 de dezembro, celebramos o Dia Internacional do Autismo, uma data que nos convida a refletir sobre a importância da inclusão e a necessidade urgente de transformar a Escola.
Num mundo onde a perfeição é frequentemente idealizada, ser diferente pode parecer um desafio.
É precisamente essa diferença que enriquece as nossas vidas e as comunidades com novas perspetivas e experiências.
Para os Profissionais da Educação, as Famílias e a Sociedade, é essencial reconhecer e valorizar a diversidade como um pilar fundamental para o desenvolvimento saudável e inclusivo de todas as Pessoas.
Cada criança é única, trazendo consigo um conjunto distinto de habilidades, motivações, atitudes, formas de aprender, interesses e perspetivas.
Em vez de se tentar moldar todos a um padrão uniforme, devemos celebrar essas diferenças e criar ambientes onde cada um possa florescer.
Isso significa adaptar e transformar a Escola para atender às diferentes necessidades dos alunos, promovendo uma cultura de valorização, de respeito e de aceitação e ser capaz de proporcionar um processo educativo equitativo para cada aluno.
Mas, como podemos, juntos, respeitar a diferença e trabalhar para um futuro onde todos possam ser verdadeiramente eles próprios?
Deixo aqui alguns desafios para transformar em oportunidades no âmbito da Educação Inclusiva que, salvo melhor opinião, podem ajudar a transformar a Escola e a construir uma sociedade mais justa, inclusiva e rica em diversidade, a saber:
Garantir mais investimento público
As práticas inclusivas não se pautam em adaptações para beneficiar uma minoria, mas, sim, proporcionar uma educação diferenciada para todos os alunos.
Assim, a educação inclusiva precisa de mais investimento público. A falta de recursos humanos e materiais é um constrangimento constante, direi, estrutural, pois repete-se todos os anos letivos. Tem de ser uma prioridade política urgente.
Com efeito, é necessário garantir com a devida razoabilidade, mas de forma equitativa que todas as escolas tenham acesso, de acordo com as suas reais necessidades, a profissionais qualificados, como psicólogos, terapeutas e assistentes operacionais, entre outros, bem como a tecnologias que facilitem a aprendizagem e as práticas inclusivas.
Formação Contínua e Especializada
Os professores e técnicos especializados são a chave para o sucesso da educação inclusiva. A sua entrega, dedicação e compromisso, o não trabalhar apenas, mas, muito para além disso, viverem digna e fervorosamente o compromisso e a missão de promover uma educação inclusiva, merece o devido reconhecimento. Mas para que a sua ação seja ainda mais digna, competente e eficaz, é, de todo, essencial que se invista ainda mais na sua formação contínua e especializada, capacitando-os para lidar com a diversidade de necessidades e promover práticas pedagógicas inclusivas que permitam valorizar todas as formas de ser e aprender para atender às necessidades de todos os alunos.
É também indispensável atrair os jovens para a formação profissional na docência, bem como melhorar o recrutamento e a manutenção dos mesmos no sistema. O recrutamento de professores deve privilegiar diversas origens étnicas, culturais e linguísticas.
É prioritário aumentar as vagas nos mestrados, tendo em vista a profissionalização dos docentes, o que não tem acontecido. A ser assim, a falta de professores continuará a agravar-se.
Na formação inicial de professores deve apostar-se numa abordagem multicultural, tendo em atenção a diversidade, equidade e inclusão.
(Re)Conquistar, Transformar, (Re)inventar o tempo
É preciso ter tempo para as aulas, para apoiar os alunos, para planificar e preparar as atividades educativas, para trabalho colaborativo e menos, muito menos burocracia.
Enquanto a Administração Educativa não der sinais efetivos tendentes a mitigar este impacto negativo na vida das escolas, cada escola deve pensar estrategicamente o trabalho docente, procurando simplificar o trabalho dos professores para poderem ter mais tempo para a nobre missão de fazer aprender, para serem professores e ainda, abolindo todas as tarefas pedagogicamente inconsequentes.
Valorização social da Família
Para as Famílias, apoiar a individualidade dos filhos é crucial. Encorajar a expressão pessoal e a exploração de interesses próprios ajuda a construir uma autoestima sólida e uma identidade forte. É importante que os Pais estejam atentos às necessidades emocionais e sociais dos filhos, oferecendo-lhes ambientes seguros e acolhedores onde possam ser autênticos e se sintam valorizados e incluídos.
Assim, é indispensável que as políticas públicas assumam o desafio-compromisso na criação de condições por quem de direito, para que os pais/encarregados de educação possam ver compatibilizados os seus horários de trabalho com a organização e funcionamento da Escola. Mas também encontrar mecanismos para que as famílias sejam responsabilizadas pelos comportamentos dos seus filhos na escola. Atribuir às famílias a quota-parte da sua responsabilidade. Ter ainda em consideração que há pais/encarregados de educação que, para acompanhar os filhos nas tarefas escolares, precisam de condições e formação que não têm. Nesse sentido, é necessário que se promovam programas de Formação Parental em articulação com as Associações de Pais, Centros de Formação e Agrupamentos de Escolas/Escolas não agrupadas.
Criação de comunidades de aprendizagem
A territorialização da ação educativa deve ser a âncora do desenvolvimento da educação inclusiva.
As comunidades de aprendizagem no âmbito da educação inclusiva, o trabalho em rede e as redes de escolas são práxis poderosas para o conhecimento e desenvolvimento profissional.
A sua implementação e desenvolvimento fortalece as sinergias, fomenta a partilha e a colaboração, dá a conhecer as boas práticas inclusivas e promove momentos de debate e reflexão em conjunto.
Juntos somos mais fortes!!! Este é o caminho para se promover com maior intencionalidade a educação inclusiva nas escolas e nos territórios educativos.
Colaboração e Parcerias
A inclusão não pode ser alcançada apenas dentro das salas de aula nem pode ser responsabilidade de um único setor.
A ser assim, é fundamental criar e/ou alargar e manter redes de colaboração com o contexto envolvente, em áreas como educação, saúde, desporto, artes, cultura, universidades (cariz científico) e empresas, estabelecendo redes de apoio e parcerias integradas e eficazes que, entre outras dinâmicas, fomentem o empreendedorismo, façam a ligação do trabalho escolar à realidade local, motivem os alunos para a exploração real de projetos escolares, partilhem conhecimentos científicos e práticas profissionais, disponibilizem recursos e ainda, criem oportunidades de emprego inclusivas e programas de estágio para pessoas com deficiência.
Intervenção Precoce na Infância
Urge erradicar e/ou minorar comportamentos disfuncionais e de risco muito antes da entrada na escolaridade obrigatória, por boas e atendíveis razões que todos bem compreendemos. A política educativa deve priorizar na sua agenda, quanto antes, a Intervenção Precoce na Infância.
Monitorização e Avaliação
Um melhor planeamento estratégico, a elaboração e a implementação de políticas públicas inclusivas, requerem processos de monitorização e avaliação.
Em boa verdade, sem um conhecimento e uma compreensão profunda das práticas inclusivas em curso no terreno será difícil produzir reflexões e recomendações que contribuam para melhorar e renovar a qualidade da educação inclusiva.
Salvo melhor opinião, importa ter em conta que o Decreto-Lei n.º 54/2018, passados seis anos, muito ganharia com uma monitorização e avaliação extensiva no terreno, com base em dados objetivos, rigorosos sobre a sua operacionalização.
Não estão em causa as boas intenções do Decreto-Lei em apreço que são reconhecidas nacional e internacionalmente como sendo uma referência de excelência a seguir. O que importa estudar é a sua aplicabilidade, refletir e avaliar que inclusão se faz efetivamente no terreno e, fundamentalmente, divulgar as práticas inclusivas de qualidade que se promovem nas nossas escolas.
Mudança de Atitudes
A inclusão começa com a mudança de atitudes.
Ainda existe um preconceito significativo contra as pessoas com deficiência, o que pode dificultar a sua inclusão no mercado de trabalho e na sociedade em geral.
Precisamos de uma cultura escolar que celebre a diversidade e veja cada aluno como um indivíduo único com potencial para aprender e crescer.
A organização de workshops com diretores, professores, técnicos especializados, assistentes operacionais e outros membros da comunidade, bem como a promoção e realização de campanhas de sensibilização e de programas comunitários são formas eficazes de educar e sensibilizar as comunidades locais que importa desenvolver no sentido de se partilharem ideias e boas práticas tendentes a combater o preconceito, as atitudes discriminatórias e ainda, a educar a sociedade para a importância da diversidade e da inclusão e assim, melhorar as atitudes em torno da educação inclusiva para pessoas com deficiência.
Uma Luz no Caminho
Neste Dia Internacional do Autismo, sejamos a luz que ilumina o caminho para uma educação verdadeiramente inclusiva. Que cada escola, saiba enfrentar os constrangimentos latentes e continue a ser um espaço onde se promove a equidade e o respeito pelas diferenças, onde todos os alunos, independentemente das suas capacidades, possam aprender, crescer e prosperar.
A verdadeira inclusão não é apenas uma meta da Escola, é um caminho que devemos percorrer juntos, com determinação e esperança e que começa quando todos nós, como sociedade, decidimos fazer a diferença.
Assim, acredito que, com o compromisso de todos os setores da sociedade, podemos construir um futuro onde a educação inclusiva seja a norma, e não a exceção.
Fernando Elias
Fonte: Observador por indicação de Livresco